sábado, 2 de maio de 2015

O que falta para as mulheres reinarem nos negócios?

As restrições que cercam o empreendedorismo feminino começam a serem vistas como um prejuízo para toda a sociedade
Nos dias de hoje, o mundo dos empreendedores está dividido meio a meio entre homens e mulheres. No Brasil e em grande parte do mundo. Então, por que temos a percepção de que os homens são a esmagadora maioria?  Se olharmos o cenário das empresas de sucesso pelos olhos das revistas de negócios, a sensação será de predominância masculina absoluta.

Empreendedoras como Maria Luiza Trajano (Magazine Luiza), Chieko Aoki (Rede Blue Tree), Sonia Hess de Souza (Dudalina) e Zica Assis (Beleza Natural), veteranas protagonistas da lista das mulheres mais poderosas do Brasil da revista Forbes, parecem uma exceção à regra.  

As empreendedoras têm menos sucesso porque são invisíveis? Ou são invisíveis porque têm menos sucesso?

Em um mundo que vive a ruptura de economia hard para a economia soft, muita gente começou a se perguntar onde estavam as mulheres empreendedoras que deveriam estar liderando esta transformação. Se elas são tantas, o que está faltando para que dividam o sucesso em pé de igualdade com os homens?

Furadeira x fita métrica

Pesquisadores do Instituto Gallup, autores de um amplo estudo internacional sobre as competências que diferenciam os empreendedores de sucesso, tiveram oportunidade de presenciar que, sim, homens e mulheres têm um jeito muito diferente de fazer negócios. Em um mundo construído para o estilo masculino de business, as mulheres, por enquanto, estão no prejuízo. Suas empresas são menores, empregam menos pessoas e geram menos receitas.

Enquanto os homens preferem setores ligados à indústria ou de alto crescimento, como tecnologia, as mulheres se voltam para os serviços pessoais, como saúde, estética e moda, áreas consideradas menos produtivas e rentáveis. Não haveria o menor problema nesta diferença se ela não se tornasse tão arraigada na mente das pessoas, reforçada pelo cinema, publicidade e mídia. Uma visita a qualquer serviço de banco de imagens, como o Getty Image, comprova o estereótipo.  Quando se pesquisa a palavra competência, surgem centenas de homens em canteiros de obras, chão de fábrica e laboratórios. Já as mulheres, aparecem de avental em floriculturas, cozinhas, estufas ou com uma fita métrica no pescoço em um ateliê de moda.

Segundo a análise dos pesquisadores da Gallup, há como um círculo vicioso envolvendo a mulher empreendedora. Elas tomam decisão mais por razões pessoais do que de negócios e iniciam um empreendimento em setores menos atraentes para os homens para conseguir conciliar vida pessoal e trabalho. Com rentabilidade e produtividade menor, tem menos patrimônio. Com menos garantias para oferecer aos bancos, têm dificuldade de conseguir crédito e, por isso, tendem a evitá-lo. Com menos financiamento, não conseguem crescer.

A cadeia de preconceito em torno do empreendedorismo feminino, que espelha a dificuldade das executivas na carreira corporativa, distorce a capacidade de tomar decisão, formar alianças e definir objetivos para construir empresas de alto crescimento. 


O jogo de domingo

Outra pesquisa, feita em parceria pela ONG de empreendedorismo Endeavor e a ONU/Unctad, mostra as implicações das diferenças que trazem desvantagem às mulheres, como o jeito de usar o network e a capacidade de inovar. As mulheres, além de ter uma rede de relações menor, não demonstram a mesma facilidade dos homens para aproveitá-las para fazer negócios.

Esta postura pode ser constatada na baixa participação das mulheres em associações setoriais, na convivência com outros empresários e na busca de sócios. E também no happy hour e no jogo de futebol de domingo, arenas tradicionais para fortalecer os laços de trabalho e negócios.

Mulheres conseguem menos crédito que os homens e de menor valor. Na raiz dessa dificuldade, a pesquisa Endeavor/Unctad aponta, como uma possível causa, a diferença na visão masculina e feminina do que seja inovação. Elas se dedicam a inovar em processos produtivos, como na área de recursos humanos e marketing. Homens empreendedores tendem a investir em inovação de produtos, que rendem licenças. Na hora de apresentar o negócio a um fundo de capital de risco, ao banco ou a uma instituição de fomento, eles têm um produto mais concreto para mostrar ao investidor e impressionar.

Qualidades do empreendedorismo feminino que são invisíveis para os financiadores, no entanto, ganham cada vez mais importância no atual ambiente de trabalho. Empresas fundadas por mulheres em áreas inovadoras têm maior facilidade em atrair e reter talentos, uma questão que se tornou crucial para pequenas e grandes empesas. Uma das causas é justamente a capacidade feminina de gerar inovação no setor de serviços, a maior contratadora de mão de obra na economia atual.

Se não conseguem acompanhar os homens no ritmo do networking, as mulheres ganham na dedicação ao aprendizado. Elas compensam as carências de formação e relacionamento fazendo cursos de aprimoramento, que ajudam também a fortalecer a confiança, outro ponto frágil quando criam o primeiro negócio.

Nova York versus Vale do Silício
A revista americana de empreendedorismo INC flagrou, em reportagem recente, o efeito no ambiente de negócios quando o mercado se abre para as mulheres. O artigo compara a diversidade de Nova York à misoginia do Vale do Silício, na costa leste. Na capital da economia criativa, das parcerias colaborativas e dos negócios de moda, mídia e serviços financeiros, as empreendedoras estão conseguindo criar startups de negócios inovadores com investimentos de capital de risco em muito maior número do que na capital da tecnologia.
A tese da revista é que, nos setores em que as mulheres já tinham forte presença, elas agora lideram a disruptura dos negócios. Como haviam feito os rapazes do Vale do Silício tempos atrás. É um sinal do fim da invisibilidade das empreendedoras?

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